sábado, 21 de novembro de 2015

Pregador Luo fecha 1º grande contrato, mas quer distância do business da fé





Capa do disco "Governe", do rapper paulistano Pregador Luo




Depois de 18 anos de carreira, 15 discos independentes e 5 milhões de fãs no Facebook, o rapper Pregador Luo lança finalmente seu primeiro disco por uma grande gravadora. "Governe" (ouça no UOL Música Deezer) sai pela selo gospel da Universal, embora o cantor não queira se associar a um só nicho religioso.

"O pregador tem que escolher escolher uma ideologia e levar aquilo adiante. É o que eu tenho tentado fazer com o cristianismo através do hip hop", explica o rapper de 39 anos da zona sul de São Paulo, cujo nome de batismo é Luciano dos Santos Souza.

Em entrevista ao UOL, Luo não poupa os que chama de comerciantes da fé. "O mercado da fé está começando a ser visto como um business do mais lucrativo e isso afasta as pessoas do real significado do evangelho", justifica ele, que não divulga a igreja que frequenta.

"Eu me recuso a fazer parte disso e se alguém quiser me censurar em eventos não tem problema, porque isso já acontece."


Consciência Negra e racismo

Ao menos duas das faixas de "Governe" citam explicitamente casos de racismo. Em "Derrubando Muralhas" Luo canta "nem preconceito, nem racismo, nem inveja, nada me para". Já em "Rolê da Consciência", o rapper aborda diversos temas atuais como maioridade penal, violência contra a mulher e linchamento. E o racismo também está lá. "Seu salário é menor só porque é negão".

Luo vê os casos recentes como o da atriz Taís Araújo como situações plantadas para tirar a atenção do real problema que o negro comum vive. "Não que a gente não deva levar em consideração, mas não estamos falando de um negro comum que sofre vários outros tipos de racismo e ninguém liga. Aconteceu com alguém famoso que é negro, é racismo. Agora se a pessoa não é famosa, não tem boa condição social, acaba passando batido".

Ele defende a reflexão sobre a Consciência Negra como importante, mas não primordial. " Essa não é uma data para comemorar. É uma data de luto. Se a gente ficar só falando sobre (racismo), não vamos chegar a lugar nenhum. A música é só um meio de chamar atenção para que a gente possa debater os problemas", reflete.

A fama 

Amigo de lutadores de MMA brasileiros como Anderson Silva - em 2008, ele gravou um disco só com músicas para atletas entrarem no octógono -, Pregador Luo diz ter pavor de virar celebridade. "Eu não suscito isso. E parece que o mercado gosta de fazer isso com as pessoas para que elas fiquem cada vez mais alienadas e pensem que o artista é um 'deus'. Eu tenho medo disso. Isso não é admiração, é histeria".

O desejo do músico com seu 15º disco da carreira é deixar um legado, sem necessariamente gravar seu nome. "Quando você é alçado a mito as pessoas não sabem mais o que é verdade, o que não é e aí você passa a ser respeitado não pelo o que de fato você é, mas pelo o que as pessoas idealizam de você", finaliza.

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